Por que o algoritmo nunca vai construir o seu marketing
- LTGF

- 5 de jul.
- 2 min de leitura
Tenho refletido muito sobre o peso que os algoritmos exercem hoje sobre o marketing e, mais do que isso, sobre as decisões que nós mesmos tomamos, quase sempre anestesiados pela promessa de alcance fácil e métricas reluzentes. Durante anos, vi empresas se empolgarem com relatórios cheios de impressões e alcances, enquanto, na prática, mal sabiam explicar quem realmente se engajava com elas, quem se tornava cliente, quem voltava. Parece duro dizer, mas essa é a verdade incômoda: grande parte do que chamamos de “visibilidade” é só ilusão estatística patrocinada pelas plataformas.
O algoritmo não está preocupado em priorizar o seu conteúdo. Ele prioriza aquilo que retém usuários e maximiza a monetização dele, não a sua. Cada vez que moldamos nossa comunicação para se encaixar nos caprichos desse sistema, acabamos nos distanciando do que deveria ser o coração do marketing: criar relações reais, vínculos memoráveis, narrativas que façam sentido fora do feed. A consequência é um volume absurdo de publicações rápidas, genéricas, feitas para agradar as lógicas da plataforma, mas incapazes de deixar marcas profundas na mente ou no coração de quem importa.

Vejo muitos gestores se confortarem com números altos em relatórios, impressões, alcance, curtidas sem perceber que boa parte disso é puramente superficial: visualizações passivas, repetições automáticas, interações quase mecânicas que não constroem nada além de uma falsa sensação de relevância. Enquanto isso, o algoritmo segue seu curso, encarecendo cada impressão qualificada e empurrando as pequenas e médias empresas para disputar leilões ferozes onde quase sempre saem perdendo. O marketing, que já foi ferramenta de construção de valor e diferenciação, vira um jogo caro e desigual que alimenta as big techs muito mais do que fortalece as marcas.
O que defendo no meu trabalho, no meu livro e nas conversas que tenho com empresários, colegas e alunos, é coragem. Coragem para não medir tudo por curtidas ou cliques. Coragem para investir no que é seu: o seu site, a sua base de e-mails, os seus grupos, as suas conversas diretas. Coragem para escolher profundidade em vez de velocidade, mesmo que isso signifique abrir mão do aplauso fácil dos relatórios mensais. Não se trata de demonizar os algoritmos, mas de colocar cada coisa em seu devido lugar: plataformas são ferramentas, não bússolas morais, não mentores estratégicos. Podemos e devemos usá-las, mas sem deixar que ditem quem somos ou o que falamos.
No fim das contas, me pergunto, e provoco você a se perguntar também: quais marcas você ainda lembra, mesmo sem estar vendo anúncios delas neste momento? Quais histórias ficam? Quais mensagens voltam à sua cabeça meses depois, longe do barulho digital? O que sobrevive às mudanças de algoritmo não é o que ele priorizou, mas o que a sua memória e a sua experiência escolheram guardar.
Algoritmos mudam, se reconfiguram, recalculam. Relações verdadeiras permanecem. Esse é o marketing que acredito, o marketing que proponho, e que, justamente por não ser entregue pelos algoritmos, exige mais presença, mais propósito, mais verdade. E talvez por isso mesmo seja tão raro, tão desafiador e tão urgentemente necessário.







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